segunda-feira, 8 de novembro de 2010

OS NOSSOS RELACIONAMENTOS FAST-FOOD





Na briga com o relógio de 24 horas e na tentativa de resolver com precisão suas necessidades, a humanidade pós-moderna no afã de atender aos compromissos inadiáveis, tem optado por seguir caminhos de facilitação mais rápidos e menos dispendiosos. O ser urbano que vive a realidade do corre-corre das ruas não consegue separar um momento para observar a beleza da vida. O homem da era tecnológica passa oito, dez horas por dia vislumbrando os índices financeiros da bolsa de valores e se esquece de que a arte da vida acontece nos lugares onde seu olhar indiferente mais negligencia. Parar para analisar a natureza, as coisas belas da vida ou explorar a riqueza contida na biografia do semelhante, isso nunca!Somos frenéticos e lidamos impacientemente com as demandas inevitáveis do dia-dia e por causa da exigência de se fazer tudo perfeitamente somos obrigados pelas circunstâncias a preferir o que é instantâneo e evitar, o máximo que seja possível, as opções que exigem certa dose de paciência. Aumenta-se a velocidade dos carros, da internet, das entregas de mercadorias e concomitantemente as visitas aos consultórios médicos.

Segundo alguns estudiosos não estamos conseguindo manter uma rotina saudável, pois os excessos de atividades aliados ao pouco tempo disponibilizado para o descanso pressionam-nos para o desgaste físico e mental, ocasionando diversas doenças psíquicas e inúmeras perturbações de ordem física. Nas pesquisas que realizei, encontrei muitas definições que caracterizam o aspecto uniforme da sociedade superatarefada. Por sua perfeita aplicabilidade ao assunto em voga, a denominação: Geração Fast-Food é a acepção mais utilizada para descrever a situação existencial que permeia a sociedade pós-moderna. E o que isso significa? Pois bem, de acordo com essa expressão inglesa, somos a sociedade não apenas da comida rápida, onde todas as coisas que nos servem devem ser precisas, mas também somos uma geração constituída de vários outros aspectos que carregam essa marca da efemeridade, que apresenta uma falta de permanência nos relacionamentos pessoais, nos contratos sociais e nas iniciativas empresariais. Temos que entender a flexibilidade humana, mas não podemos respaldar com tal base a falta de consistência da ação de muitas pessoas. Acompanhei de perto inúmeros casos de pessoas emocionalmente cansadas, com seus sentimentos triturados porque foram deixadas de lado por seus companheiros (a) de uma hora para outra.   Fomos coletivamente vitimados por um estado inconsciente onde não existe segurança quanto à durabilidade de se estar junto e com isso não conseguimos manter a chama viva do amor por muito tempo. Então os solitários são jogados no poço das incertezas e quando uma corda lhes é jogada, o medo de não ser sustentado os assalta e toda chance de se construir uma vida a dois é dissolvida. É verdadeira e digna de toda aceitação a idéia de que a ausência de uma perspectiva futurística decreta o insucesso de um vínculo. É mais ou menos assim: Nos encontros que a vida proporciona ao homem ou a mulher, têm-se a oportunidade de achega-se a alguém, que de inicio corresponde às suas expectativas e não obstante o fervor dos primeiros dias, passado talvez um mês, já se percebe o distanciamento físico e sentimental de ambos e por fim acontece o desfecho do caso que poderia chegar a ser uma grande história de amor.  

O tempo assustadoramente abreviado meche com a cabeça do homem e o faz girar de um lado para outro, sem, contudo achar uma resposta para os seus mais íntimos anseios. Sabemos que é impossível em determinadas circunstâncias perpetuar uma benéfica relação. Cada caso é um fato singular. Mas esse efeito devastador do Chronos está formatando a personalidade de muitos seres humanos e graças ao poder consumidor do tic-tac se tornaram vulneráveis a toda sorte de desencontros. Por causa do medo de não ter tempo suficiente para viver suas paixões represadas, o homem pós-moderno se vê ante ao dilema de não poder cumprir suas vontades instituais e passa a observar a vida com as lentes da incredulidade.   

Os nossos sentimentos não podem ser correspondidos mediante a rapidez dos relacionamentos pós-modernos, os seres humanos não foram criados para tão rapidamente se desvencilharem um do outro, mesmo se na mente houver a certeza de que aquele contato não passará de uma noite, uma ligação de alma poderá acontecer e o coração (a sede dos nossos mais complexos anseios essenciais) não conseguirá se desprender sem que antes sobrevenha sobre ele uma forte dor que parecerá consumir toda a energia da alma. Se a realidade dos nossos dias nos pressiona para sermos hedonistas caminhar na contramão do sistema ainda é possível. Ser hedonista é seguir a filosofia que apregoa a necessidade de se realizar todos os desejos no tempo presente e a qualquer custo. Certamente você conhece pessoas que seguem essa linha existencial ou pode ser que até você tenha sido infectado pelo vírus do hedonismo sexual.

Se as pessoas continuarem se dissolvendo em suas rápidas aventuras sentimentais certamente mergulharão no mar da confusão sentimental, cada vez mais insatisfeitas mesmo tendo a possibilidade de se encontrar um parceiro na esquina ou numa sala de bate-papo na internet.

Abraços permanentes!
Paulo César Jr.