quinta-feira, 28 de outubro de 2010

QUEM TEM A FORÇA DA TRANSFORMAÇÃO-O PROFESSOR OU O MILITAR?


Ao considerar as causas e implicações do projeto de emenda constitucional PEC 300 que outorga aos policiais militares um piso salarial bem superior aos de outros estimados servidores públicos, desejo delinear dentro da perspectiva cidadã e docente, o meu entendimento sobre a questão, afim de que o prezado leitor venha enxergar o outro lado da moeda.Como um jovem estudante que arvoreia a bandeira da educação como a esperança para a transformação do Brasil, como diligente estudante de um curso de licenciatura e futuro professor efetivo, não posso me calar diante das alternativas infrutíferas e capciosas tomadas pelos governos estaduais, em especial o de Minas Gerais, no que diz respeito às ações de combate a violência e ao crime organizado. Por ações infrutíferas tomo por base a construção de presídios dispendiosos em diversas cidades do estado. Os gastos são assustadores, extraem-se dos cofres públicos milhões de reais e como o sistema carcerário do Brasil segue um paradigma bárbaro de detenção, onde não existe recuperação e sim degradação do ser, é seguro afirmar que as cadeias públicas não beneficiam a sociedade. Geralmente quando um homem ou uma mulher ao cumprir os anos de pena, recebem o direito de liberdade das penitenciárias, encontra-se em um estado de desequilibro psicológico bem pior do que quando ali entraram. Por não terem tido, enquanto prisioneiros, o acesso a atividades capacitativas, o ex-detento vê-se impedido de introduzir-se ao mercado de trabalho, pois os anos passados na cela não lhe serviram para nada, não puderam trabalhar sua consciência, seus valores e sua reintegração social Sim, construir cadeias é o investimento governamental mais execrável que se tem notícia. Constroem-se mais complexos prisionais do que escolas e esta é a causa primária da complexidade do maior problema sociológico do Brasil. Enquanto as nossas autoridades não assumir uma postura favorável ao trabalho dos educadores, compreendendo o seu ilustre papel no desenvolvimento humano, os marginalizados continuarão a crescer e a violência se expandirá cada vez mais. Enquanto não houver da parte do governo um real interesse em melhorar as condições estruturais das escolas, os presídios serão erguidos por toda parte.

Sobre alternativas capciosas, entendo ser o atendimento preferencial que o governo do estadual concede para os policiais militares. Há um jogo de interesses que desmerece os direitos dos educadores que laboram diariamente em salas de aulas superlotadas. Enquanto isso o governo do estado não se incomoda em cortar o mal pela raiz, prefere investir maciçamente no policiamento enquanto esquece-se do profissional mais formidável da coletividade, o trabalhador que fornece às pessoas o meio para o aperfeiçoamento da consciência humana. Estou certo de que não existe profissão que esteja em um grau de importância superior à dos professores. Também estou certificado que a carreira docente é vitimada pelo descaso da administração pública que tem a coragem de remunerá-los com um salário defasado e extraordinariamente humilhante. Olhe o tamanho das contradições!  O educador, segundo Augusto Cury, é o trabalhador mais importante do país, porque por meio dele os jovens descobrem os princípios elementares da vivência humana e recebem o preparo para suprir as demandas da existência. O compromisso do policial é corrigir,mas o do professor é o de previnir!Mas infelizmente poucos atentam para isso. Poucos jovens desejam ingressar na carreira docente e uma maioria atraída pelos desejos materialistas busca no militarismo a resposta para as suas necessidades financeiras. Pois é muito fácil um jovem tornar-se policial militar, basta apresentar uma razoável compleição física e alcançar a média na avaliação de múltipla escolha. E como o governo estadual não quer investir na educação, pois sabe que uma população instruída é politicamente consciente e difícil de ser manipulada, opta por beneficiar os policiais militares. Esse mesmo governo faz questão de aprovar a maioria dos candidatos submetidos aos testes, pois ele a cada ano autoriza o aumento de vagas para o quadro de funcionários da segurança pública. São tantas as oportunidades para quem quer seguir essa carreira que parece que estamos vivendo um tempo de alistamento, um tempo de guerra. E consequentemente a mocidade sem perspectiva profissional ou os que, pela falta de empenho nos estudos por ficarem desprovidos intelectualmente, vêem neste caminho a única opção de vida estabilizada. Entrando no sistema militar, de forma rápida acabam por ser infectados pelo vírus da intolerância e do autoritarismo. É bom salientar que nada tenho contra os policiais. Creio que eles devem ser respeitados como todo trabalhador digno. Mas é preciso estabelecer uma diferenciação no tocante a qual profissão merece granjear um nível elevado de valorização, considerando o papel desempenhado na construção da cidadania e também qual ocupação possui a instrumentalidade para transformar a sociedade. E nisto meu amigo, os professores são os únicos indicados. Os policiais tentam corrigir as situações contrárias ao bom fluxo das interações sociais das pessoas, mas os professores possuem o poder de consolidar na mente humana os princípios que impedirão que um jovem venha tornar-se um criminoso.

A minha intenção neste texto é mostrar a você a incongruência entre o que é ideal e o que é real. Para que você veja como os interesses políticos ocasionam essas acepções profissionais. A criminalidade é um desafio para toda a sociedade e não poderá ser combatida somente com as armas de fogo e com a infeliz repressão policial. A violência policial além da maioria das vezes é praticada em pessoas de bem, acarreta um efeito agressivo na população, cooperando em nada no combate ao crime. É preciso dizer em alto e bom som que não se constrói uma nação com armas de guerra. É a presença atuante das famílias e dos professores engajados no compromisso social que pode pavimentar o viés da cidadania. Se desejarmos a segurança precisaremos seguir o caminho da paz. Se de fato desejarmos estabelecer um novo tempo em nossas cidades, precisamos lançar mão de estratégias que não utilizem meios repressivos. Em síntese: O governo estadual não pretende melhorar efetivamente a situação da educação, mas manifesta seu favoritivismo aos policiais, tencionando com isso dizer que trabalha pela segurança do povo, o que não é verdade, pois a proteção que se espera é resultado de políticas justas de distribuição de renda, saúde e educação. O policial militar deve ser considerado como útil na manutenção da paz, mas não pode visto como o meio de solução para os desafios da marginalidade como tráfico de drogas, de armas e de toda sorte de crueldade exibida diariamente nos telejornais.

Um abraço cheio de Paz
Paulo César Jr.

"Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem." (Carta de Paulo aos Romanos 12: 21).